sexta-feira, 16 de maio de 2008

AMOR 6 ÓPERA DO MALANDRO
Chico Buarque

1º Acto - Cena 3

(...)
Vitória(mãe)- Teresinha, duas pessoas podem até se amar que nem nas novela. Só que na vida real, se você ama uma pessoa, é lógico que não vai casar com ela. Casa com qualquer outro. Veja teu pai e eu. Como é que esse casamento durou esse tempo todo? Aqui ninguém ama nem desama.
Duran(pai) - Nem fede nem cheira
V - Nem bate, nem alisa. Então é casamento para a vida inteira. É pão pão, queijo queijo. É tijolo.
D - É sólido como um banco.
V - Porque ninguém suporta os defeitos da pessoa amada por mais de um fim-de-semana em Paquetá. depois a pessoa amada vai ficando é muito chata. O amor vai virar exigência e exigência vai virar frustração que vai virar rancor que vai virar ódio e ódio vai ser mortal. Aí não tem perdão, Teresinha. Só se perdoa quem não se ama.

A orquestra ataca em ritmo de valsa

Teresinha canta "Teresinha"

O primeiro me chegou

Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia

Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens

E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio

Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada

Que tocou meu coração
Mas não me negava nada

E assustada, eu disse não

O segundo me chegou

Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente

Tão amarga de tragar
Indagou o meu passado

E cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta

Me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada

Que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada

E assustada eu disse não

O terceiro me chegou

Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada

Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama

Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama

E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro

E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro

Dentro do meu coração

A orquesta silencia

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